não à palavra "empregados"!!! não me agrada nada quando os alunos e/ou os professores, tratam os funcionários por empregado, até parece que trabalha lá em casa. |
Somos todos funcionários.
O papel dos assistentes operacionais
nas escolas |
Quando os meninos chegam, pela
primeira vez, a uma coisa chamada jardim de infância, muitos deles até se
adaptam bem, outros têm muitas dificuldades. Em ambos os casos buscam uma
segunda “mãe” para os abraçar, para lhes dar beijinhos, carinho, colinho, para
lhes limpar as lágrimas, para os adormecer, em muitos casos, para lhes mudar
as fraldas, para lhes fazer pequenos curativos, para os ajudar a comer, às
vezes meter comida à boca, em suma ajudá-los a crescer. E é principalmente a assistente
operacional que tem este papel. São raras as crianças que depois de
crescerem não se recordam dessa pessoa e a maioria dos casos nunca se
esquecem do nome da “auxiliar” e de um ou outro episódio que ela os marcou
pela positiva. Do lado desta profissional a festa de finalistas é um momento
de alegria, de satisfação, porque os seus meninos já “aprenderam a voar”
sozinhos mas por outro lado é um momento de tristeza de perda porque vai
ficar sem os seus meninos. No primeiro ciclo, as crianças entram
naquela coisa, que já é uma escola a sério, onde já há notas, onde se pode
ficar retido (e ainda há pouco havia exames), olham para os alunos do
terceiro e do quarto ano e parecem-lhes muito grandes e isto ainda é mais
assim, quando vão parar a uma escola que além do primeiro ciclo, também tem o
segundo e o terceiro. |
A maioria delas, ficam mesmo assustadas
e imediatamente procuram “auxilio” naquela pessoa que as recebem ao portão, que
está com elas no recreio, que as acompanha no refeitório, que as entrega ao fim
do dia, aos pais ou então acompanha-as à carrinha ou autocarro. Estas pessoas são
as assistentes operacionais destas escolas ou destes centros escolares que,
durante quatro anos, têm o prazer de ver crescer estes meninos, têm orgulho,
satisfação de terem tido um papel ativo no seu crescimento e de terem ajudado a
prepará-los para uma nova etapa.
O último dia em que estão na escola, por
norma, é dia de festa e quase sempre há lugar a troca de prendas entre as
funcionárias e os alunos, muitas fotografias mas também muitas lágrimas e
imensas promessas, por parte das crianças, de futuras visitas. Certamente isto
acontece porque se desenvolvem fortes laços de afetividade. Faço aqui o
desafio, de todos nós puxar a fita atrás, e de dizer em voz alta o nome de pelo
menos de uma auxiliar da nossa primaria e seremos poucos a não superar o desafio.
No setembro seguinte, os nossos meninos
chegam à EB 2,3. Esta maior, muitos professores, muitas disciplinas, muitos
alunos e muitas coisas novas. Mesmo sendo mais assistentes operacionais,
rapidamente cada aluno, cada turma “escolhe” aqueles com quem querem contar,
para lhes segredar as suas coisas, para ajudar a vencer uma série de medos,
para proteger dos grandes, dos maus, para os desculparem aos professores e aos
pais e principalmente para sentir que não estão entregues a si mesmo.
Quando os jovens entram no secundário já
não querem e não precisam dos assistentes operacionais, para os ajudar a comer,
para protegê-los dos grandes ou maus e muito menos para lhes dar beijinhos. Mas
procuram-nos para os orientar onde e como funcionam as coisas, para eles, estas
secundárias são enormes e eles sentem-se, muitas vezes, perdidos mas com muita
dificuldade em o admitir e é em nós que encontram a possibilidade de ajuda.
Ao longo do tempo começam a desenvolver
connosco uma relação muito próxima, contam-nos muitas coisas da sua vida
pessoal, familiar, confidenciam paixões, desavenças amorosas ou seja, passam a
contar com um amigo, um confidente e com uma pessoa que os vai ajudar a dar o
salto para o mundo adulto.
Queiramos ou não, somos nós que melhor
conhecemos estes alunos, porque além do que eles nos contam, somos nós que
lidamos com eles, fora da sala de aula e é aqui que eles são verdadeiramente
eles, não estão sujeitos a uma nota, sabem que serão repreendidos mas que no
momento seguinte podem contar connosco para o que precisarem.
Nestes 20 anos lidei com centenas de
jovens, muitos deles posso compará-los a filhos, muitos outros a amigos e mesmo
muito poucos não me deixaram saudades. Depois desta ligação que mantemos, o que
melhor nos pode acontecer é vê-los, tempos depois, a serem homens e mulheres
felizes, com os sonhos realizados. Eles fazem questão de nos visitar, de nos
telefonarem, de nos procurar nas redes sociais para nos darem nota se já
acabaram o curso, se estão a trabalhar, se emigraram e até para nos convidar
para o casamento.
Aqui ficou um “cheirinho” do papel dos
assistentes operacionais nas escolas.
Maria
de Lurdes Ribeiro
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